AAquerenciado
Juliano Costa dos santos
Me aquerenciei, nas cordas do violão
e no coração da chinoca linda flor
aquerenciado vivo assim fazendo versos
meio disperso na voz de um cantador
Aquerenciado me fiz casa e melodia
na calmaria de uma tarde de verão
sorvendo um mate, na sombra do cinamomo
é mais que um trono para este pobre peão
Me fiz morada para tantos sonhos largos
aquerenciados nas feições do dia a dia
bombacha larga , um panuelo colorado
chapéu tapeado e um poncho pras invernias
vivendo assim, entre a guitarra e cordeona
empeso la doma, el bocal de couro cru
vou encilhando com muita calma e jeito
a cincha no osso do peito , e o velho basto Paysandu
Me fiz querência ao arrastar um par esporas
rompendo auroras, ou então quebrando geada
mate bem quente para iniciar um novo dia
a boeira que Luzia e o relincho da eguada
O fio da faca, reluzindo mais que ouro
riscava o couro, garantindo um bueno assado
no sangrador fez casa, rancho e rumo
seguindo o prumo do capão já pendurado
Aquerenciado me fiz vento na coxilha
nas flechilhas que habitam o pajonal
no cantar do sabiá da laranjeira
e na mangueira escaramuçando algum bagual
Aquerenciado neste mundo aonde vivo
sempre altivo, riso largo, jeito franco
sigo bebendo da vertente inspiração
e a razão deste pago que amo tanto
Meu rancho é nobre, tem o céu e as estrelas
pontezuelas vagalumes e pirilampos
tem o cheiro da roseira e do alecrim
no meu jardim a paz que habita estes campos
Aquerenciado criei raiz, semente e cerno
cruzei o inverno, primavera e o verão
ao redor do fogo minha alma fez costado
aquerenciado dentro do teu coração