Juliano Costa dos Santos
Ninito era um piazito bueno
Lá da Estância do Perau.
Filho da negra Maria
E do mulato Juvenal,
Crescera fazendo arte
Pealando potros no banhadal.
E o tempo que não para ...
Transformou o piazito em moço
Deu bueno de lida o negrinho
Na camperiada era um colosso
Quebrava o queixo de um potro
Sem precisar muito esforço.
Mas o mulato certa vez, viu o mundo pequeno,
Ao pegar um potro mais forte
Era um lindo baio ruano, frente aberta
Chamado por todos de Morte
Que arrastava o fio do lombo
E se boleava igual vento norte.
Mas o negro juntou-lhe com os ferros
Bem na volta das paletas
E o baio ruano berrava,
Saltava fogo pelas ventas
Mas até o tento mais grosso
Num golpe seco arrebenta..
E este baio virou zaino,
Com tanta espora e laçasso.
O que era morte virou vida
Ao sentir a força do braço
De um índio flor de ginete
Com garras e nervos de aço.
E o Ninito pegou fama
No povoado e na região,
E nunca mais lhe faltou cavalo,
Seja manso ou redomão
Para sentar as basteiras
Da encilha do patrão.
E lhes digo! Festeiro era o Ninito
Gostava mesmo de um sorungo.
Encilhou o ruano a preceito,
E se pôs na estrada do mundo
Para gastar a sola da bota
No bolicho do Raimundo.
Bailava de cola atada!
Chapéu quebrado na testa,
Chamando a atenção de todos
Aqueles que estavam na festa
Inclusive de um borracho
Que espiava por entre uma fresta
E quando tocava uma vaneira
O Ninito era o dono da sala
Dançava com os “pé”trocado
Abanando as franjas do pala
O 38 na cintura
E o cano cheio de bala
Mas foi numa milonga
Que o negrinho arrastou asa
Pra cima de uma morena
Que ao olhar lhe provocava
O simples desejo de tê-la na garupa
E levá-la para casa
Pena que o destino é maleva,
E não perdoa nenhum cristão.
Pois aquele infeliz borracho
Tendo em punho um facão
Chegou e calçou o Ninito
Que não teve reação.
Quase que pega!!
Mas desta o Ninito escapou
E não se fez de rogado
Pois o trinta ele pegou
E com um único balaço
O borracho desabou
Nisso vinham chegando os brigadianos
Querendo prender o Ninito
Mas por uma janela estreita
Fugiu o negro solito
Que saiu em disparada
Rumo as barras do infinito.
Mas desta vez não teve chance,
Um dos tiros foi certeiro.
Morreu o pobre Ninito
Olhando a perna do freio
Daquele mesmo baio ruano
Seu eterno companheiro.
E a vida segue seu rumo
Sem possuir paradeiro
Mas leva consigo a história
De um índio flor de campeiro
Que tinha na alma um potro
Baio ruano e caborteiro.